Após dois anos de guerra, Israel e Hamas assinaram nesta quarta-feira (8) o acordo de paz proposto pelos Estados Unidos, marcando o início da primeira fase de um cessar-fogo na Faixa de Gaza. O anúncio foi feito pelo presidente americano Donald Trump, que celebrou o dia como “histórico para o mundo árabe e para Israel”.
A trégua, no entanto, já enfrenta seu primeiro teste. Na manhã desta quinta-feira (9), bombardeios israelenses atingiram novamente Gaza, segundo a agência Reuters. Colunas de fumaça foram vistas entre 6h16 e 6h35 (horário de Brasília), atingindo áreas próximas à Cidade de Gaza, justamente onde moradores começavam a retornar após o anúncio do acordo.
O gabinete israelense confirmou os ataques e afirmou que o cessar-fogo só entrará em vigor após a ratificação oficial do tratado, prevista para o fim do dia.
O que prevê o acordo
De acordo com o esboço divulgado pela Casa Branca, o cessar-fogo corresponde à primeira fase de um plano em 20 etapas.
Entre as medidas iniciais estão:
- A libertação de todos os reféns vivos e devolução dos corpos de mortos;
- A libertação de centenas de prisioneiros palestinos;
- O recuo das tropas israelenses para uma linha ainda não divulgada;
- O aumento do fluxo de ajuda humanitária em Gaza;
- E a formação de um Conselho da Paz, supervisionado pelos EUA e aliados árabes, responsável por monitorar a implementação.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar, Majed Al-Ansari, afirmou que o acordo “abrange todas as disposições e mecanismos para a implementação da primeira fase do cessar-fogo”, permitindo o “fim da guerra e a entrada de ajuda humanitária urgente em Gaza”.
Reações em Israel e Gaza
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu comemorou o acordo e chamou o momento de uma “vitória diplomática e moral para o Estado de Israel”.
“Graças à coragem dos nossos soldados, chegamos a este dia. Com a ajuda de Deus, continuaremos a expandir a paz com nossos vizinhos”, declarou em uma rede social.
Nas ruas de Tel Aviv, familiares de reféns se reuniram na Praça dos Reféns para celebrar a libertação. Já em Gaza, moradores comemoraram o anúncio com bandeiras e cânticos, ainda que sob destroços e incertezas.
O Hamas, por sua vez, elogiou o papel de Catar, Egito e Turquia na mediação e agradeceu os esforços de Trump, mas cobrou garantias de cumprimento integral por parte de Israel.
“Os sacrifícios do nosso povo não serão em vão. Permaneceremos fiéis à nossa promessa, sem abrir mão dos direitos nacionais até alcançar liberdade, independência e autodeterminação”, disse o grupo em nota.
A sombra da desconfiança
Apesar do tom de celebração, a paz ainda não está garantida. Analistas apontam que pontos cruciais permanecem indefinidos, entre eles, o desarmamento do Hamas, o alcance da retirada militar israelense e o futuro governo da Faixa de Gaza.
Em um artigo publicado pelo The Conversation Brasil, o professor Scott Lucas, especialista em política do Oriente Médio da University College Dublin, analisou o alcance e os limites do novo acordo. Para ele, a principal diferença entre este acordo e os anteriores é que “desta vez, todos os reféns vivos e os corpos dos mortos serão entregues, o que retira do Hamas seu principal instrumento de pressão”.
Ainda assim, o pacto depende da ratificação pelo gabinete israelense, prevista para esta quinta-feira (9), e do cumprimento integral dos prazos definidos por Washington.
Um acordo político — e pessoal
O papel de Trump tem sido central no desfecho das negociações. O presidente americano, que busca reeleição, teria acelerado as tratativas em busca de reconhecimento internacional, e até de uma indicação ao Prêmio Nobel da Paz, que será anunciado nesta sexta-feira (10).
A imprensa americana também relata que Trump teria pressionado Netanyahu e ameaçado o Hamas com “obliteração completa” caso rejeitassem o plano.
A vitória diplomática vem após meses de desgaste entre Israel e Washington, e de críticas internacionais às ofensivas israelenses, que deixaram mais de 67 mil palestinos mortos, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza e da ONU.