A Delicada Arte de Viver


“Se queres viver bem a vida, pensa na morte.” Esse antigo ditado me acompanha há anos – não como uma sombra, mas como uma luz que ilumina meu caminho. Compartilho esta reflexão, não para tingir vossas manhãs com melancolia, mas porque nela encontrei uma fonte contínua de lucidez.
Ontem mesmo, enquanto observava o pôr do sol alaranjar o céu do nosso Mato Grosso do Sul, perguntei-me: quantos mais verei? Não por pessimismo, mas por uma curiosidade honesta que me faz valorizar cada nuance desse espetáculo diário, tantas vezes esquecido.
A consciência da finitude tem um efeito surpreendente: desperta-nos para uma vida mais atenta e autêntica. Quando abraço meus filhos, ouço uma história de um amigo ou saboreio meu café, faço isso com a serena certeza de que esses momentos são valiosos justamente porque não são eternos.
Em conversas recentes com alguns amigos, percebo como estamos desgastados por preocupações que, à luz do tempo e da mortalidade, tornam-se irrelevantes. Quantas vezes sacrificamos o almoço com os amigos e familiares por e-mails que poderiam esperar? Quantas desculpas adiamos por orgulho? Quantos “eu te amo” deixamos de dizer por achar que haverá tempo depois?
A morte não é inimiga — é conselheira silenciosa. Sussurra-nos que a vida é curta demais para relações superficiais, para trabalhos que não nos preenchem, para sonhos adiados indefinidamente.
Lembro-me do conselho simples e poderoso de meu pai: “Filho, não lamento as dificuldades, apenas os mergulhos que deixei de dar por medo da água fria.” Uma metáfora singela, mas que nunca me deixou.
Proponho aqui um exercício honesto: ao olhar para nossas agendas sobrecarregadas e nossas listas intermináveis de tarefas, que perguntemos: “Isso fará diferença quando eu não estiver mais aqui? Isso honra o tempo limitado que tenho?” Se a resposta for não, talvez seja hora de recalibrar prioridades.
Pessoalmente, encontrei mais paz ao transformar metas em propósitos e ambições em significado. Não deixei de sonhar alto; apenas passei a buscar sonhos que, de fato, importam. Aprendi que o verdadeiro sucesso não está no que conquistamos, mas em quem nos tornamos e nas vidas que tocamos ao longo do caminho.
Penso na morte não por temor, mas para que ela me ensine a valorizar a vida: ligar para meu irmão distante, ouvir com atenção genuína um amigo em dificuldade, contemplar a lua cheia sem pressa, dizer às pessoas queridas o quanto são importantes — enquanto posso olhar em seus olhos.
Talvez a verdadeira arte de viver esteja justamente neste paradoxo: é a consciência do fim que dá densidade aos nossos dias. Saber que partiremos um dia é o que nos ensina a realmente estar presentes.
E você, o que faria diferente hoje se lembrasse, com clareza e respeito, que o nosso tempo é finito? Que conversas retomaria? Que abraços tornaria mais longos? Que projetos tiraria da gaveta?
Que possamos viver não apenas mais, mas melhor. Não apenas ocupados, mas plenos. Não apenas existindo — mas realmente vivendo.