Na quinta-feira da semana passada, o governo manteve a meta de inflação perseguida pelo Banco Central em 3% em 2024 e 2025, e estabeleceu o mesmo percentual para 2026. Ao mesmo tempo, anunciou que a partir de 2025 o BC irá perseguir uma meta contínua, não mais limitada a cada ano-calendário.
Em reação, as taxas dos contratos futuros de juros tiveram forte baixa na sexta-feira, com investidores avaliando que a mudança abre espaço para que a taxa básica Selic, atualmente em 13,75% ao ano, opere em patamares menores nos próximos anos.
Os ajustes na curva a termo continuaram nesta segunda-feira. Pela manhã, o relatório Focus do BC, que compila as projeções do mercado para os principais indicadores, mostrou que a inflação calculada para 2023 recuou de 5,06% para 4,98%. Para 2024, passou de 3,98% para 3,92% e, para 2025, de 3,80% para 3,60%. No caso de 2026, a inflação projetada foi de 3,72% para 3,50%.
Neste cenário, as taxas voltaram a ceder nesta segunda-feira, e a curva a termo passou a precificar, de forma majoritária, que o BC dará a largada no processo de redução da Selic em agosto com um corte de 0,50 ponto percentual.
Perto do fechamento, a precificação na curva para a reunião de agosto era de 61% de chances de corte de 0,50 ponto percentual da Selic e 39% de probabilidade de corte de 0,25 ponto percentual. Na sexta-feira, estes percentuais eram 28% e 72%, respectivamente.
“Além do Focus, o mercado reage à informação de que a Câmara deve voltar ainda esta semana a reforma tributária. O arcabouço fiscal também voltou para a Câmara, então há vários sinais de possíveis avanços na área fiscal”, comentou Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho.
O especialista em investimentos e sócio da Valor Investimentos, Wagner Varejão, citou ainda a mudança no tom do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC como um fator baixista para a curva a termo.
“O comunicado do Copom há duas semanas foi bem hawkish (duro), tanto que a curva abriu bastante. E a ata da semana passada amenizou isso”, afirmou. “O mercado leu isso como se já estivesse pavimentado o caminho dos cortes da Selic na reunião de agosto.”
Apesar de a precificação majoritária na curva ser de corte de 0,50 ponto em agosto, tanto o Banco Mizuho quanto a Valor Investimentos espera por uma redução inicial de apenas 0,25 ponto percentual, considerando o discurso cauteloso do próprio BC em relação à inflação.
No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 12,775%, ante 12,846% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,65%, ante 10,772% do ajuste anterior. Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2026 estava em 9,985%, ante 10,117% do ajuste anterior, e a taxa para janeiro de 2027 estava em 10%, ante 10,145%.
O recuo das taxas futuras de juros no Brasil ocorreu a despeito de, no exterior, os Treasuries sustentarem nesta segunda-feira ganhos nos EUA, na véspera do feriado do Dia da Independência.
Às 16:49 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos –referência global para decisões de investimento– subia 3,90 pontos-base, a 3,8584%.