A cannabis trata-se de um vegetal muito mais rico do que se imagina, indo além do CBD e do THC. Estima-se que existam mais de 50 mil tipos de usos oriundos da planta, sendo mais de 5 mil tipos de produtos com potencial para alimentar 21 setores diferentes da economia. Não à toa, ao menos 90 países do mundo estão passando por mudanças de legislação para acomodar o seu uso.
“A legalização da cannabis vai além da medicina. A indústria farmacêutica, por exemplo, já vem explorando as propriedades antioxidantes da erva em diversos segmentos”, aponta Kathleen Fornari, CEO e sócia-fundadora da Anna Medicina Endocanabinoide, startup brasileira que nasceu para desburocratizar o acesso à cannabis medicinal no país.
Com a abertura para os remédios à base de canabidiol, vários gigantes da indústria passaram a produzir também cosméticos com CBD, principalmente nos Estados Unidos, entre eles a L’Oreal, a Tresemmé e a Avon, da brasileira Natura, com o óleo facial Green Goddess. Na moda, já é possível encontrar roupas fabricadas com o caule e as fibras do cânhamo, que tem origem da cannabis sativa. “O cânhamo oferece um material resistente e respirável, ideal para a fabricação de roupas. Além disso, por necessitar de menos água e pesticidas para ser cultivado, gera um apelo sustentável”, diz. Desde 2013, a Levi’s usa a matéria-prima para itens selecionados.
O cânhamo está presente ainda em diversos outros mercados. A multinacional Colgate já produz creme dental feito com o óleo da semente da planta. Já na indústria automobilística, a Ford é uma das fábricas que já conta com carros com estrutura à base de cânhamo, considerada superior à fibra de vidro. Além disso, em 2021, a Federação Internacional de Automobilismo autorizou os carros construídos com as fibras da planta na Fórmula 1.
Segundo o relatório Cannabis — Pesquisa, Inovação e Tendências de Mercado divulgado em 2021, que desenha o panorama e avalia tendências do setor nos âmbitos científico e de negócios, o segmento deve atingir um ganho global de US$ 55,3 bilhões em 2024. Deste número, só a América Latina deve responder por US$ 824 milhões.
“O CBD é um óleo com propriedades terapêuticas reconhecidas. Contudo, produtos à base de cannabis ainda são encarados como tabu (no Brasil), o que reflete em uma legislação bastante conservadora quando comparada a países da Europa, Estados Unidos e Canadá”, ressalta Kathleen. Atualmente, apenas 23 produtos são regulamentados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, sendo nove deles à base de extratos de cannabis sativa e quatorze de CBD.