A chegada da estação seca, no Norte de Minas Gerais, acende o alerta para os produtores rurais da região. É o momento de pôr em prática as estratégias para garantir alimentação para o gado, nos meses em que a ausência de chuvas reduz a praticamente zero as pastagens. Em Glaucilândia, a cerca de 20 quilômetros de Montes Claros, os criadores têm este ano mais um trunfo, para suportar seis meses de seca. É que a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado (Emater-MG) promoveu no município, na última terça-feira (11 de abril), uma capacitação sobre a formação de silagem de capim capiaçu em silos cincho.
A BRS capiaçu é uma cultivar de capim-elefante desenvolvida pela Embrapa com o objetivo de oferecer alternativa para suplementação de volumoso aos rebanhos. A empresa brasileira de pesquisa agropecuária destaca como características o elevado potencial de produção e o bom valor nutritivo do capim, que pode ser utilizado ainda verde, picado logo após o corte, ou em forma de silagem.
O extensionista agropecuário da Emater-MG em Glaucilândia, Antonio Dumont, cita outras vantagens do capiaçu: “É muito resistente à seca e, se o produtor conseguir molhar, mesmo com pouca água, é possível fazer três cortes por ano. Já a cana-de-açúcar só rende uma colheita anual”, compara.
Na capacitação da última terça-feira, realizada na propriedade do casal Antônio Herculano e dona Simone, foram apresentadas demonstrações sobre o corte do capim capiaçu e suas características nutricionais. Na parte prática, foi usada uma máquina desintegradora para picar as folhas e depois foi formado o silo cincho, com aproximadamente cinco toneladas de silagem. Nos silos do tipo cincho, a matéria vegetal é armazenada em uma espécie de “bolo” compactado, formado com o auxílio de uma forma metálica.
Antonio Dumont explica que, para garantir o acesso de mais produtores a essa tecnologia de baixo custo, os técnicos da Emater-MG em Glaucilândia articularam com a Prefeitura a produção de uma forma usada para moldar o silo cincho. “A ideia é que esta forma seja cedida aos produtores interessados em produzir seus silos”, afirma o extensionista. Segundo ele, o fato de dispensar o uso do trator para a compactação do material é a principal vantagem do silo cincho: “Com a ajuda dos vizinhos, o produtor consegue fazer o pisoteio, sem necessidade de gastar com trator. Com uma forma, é possível obter de cinco a seis toneladas de silagem”, afirma.
A introdução do uso do capim capiaçu no município começou com um Dia de Campo, com a participação de 100 produtores, que receberam mudas doadas e se comprometeram a repassar, posteriormente, parte da produção para outros dez produtores. “Com essa metodologia, conseguimos uma boa disseminação do uso desse capim aqui no município.Em 80% das propriedades existe pelo menos uma moita do capiaçu”, estima Dumont. Agora, com o silo cincho, os produtores de Glaucilândia poderão contar com a silagem do capiaçu para os meses secos. E a mesma tecnologia de armazenamento pode ser usada também com ramas de mandioca e sorgo, outras culturas adequadas para as condições do clima seco da região Norte de Minas.
“Já estamos com dois meses sem chuvas, e já está faltando água e pastos em algumas propriedades. Os produtores estão tendo que procurar pastos para alugar e sem conseguir um preço razoável para o boi. Mesmo com os preços muito baixos, o pessoal está tentando vender alguns animais agora, para não passar mais dificuldade em junho, julho e agosto”, lamenta o extensionista da Emater-MG. A zona rural de Glaucilândia abriga duas minibacias leiteiras. A maior parte da produção é direcionada para pequenas fábricas artesanais de queijos, que também já sentem os reflexos da falta de chuvas. “A produção de queijo já está bem menor, com o volume reduzido de leite”, constata Antonio Dumont.
Ações ambientais
Além da silagem, a Emater-MG tem estimulado a adoção de diversas práticas de conservação de solo e retenção de águas nas propriedades rurais em Glaucilândia.”Em 2022, conseguimos, com recursos repassados pela Seapa (Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento), a construção de 62 quilômetros de terraços e abertura de 420 bacias para a captação de água de chuvas”, informa Antonio Dumont. “Onde foram feitos os terraços, a pastagem está bonita ainda. Já nas propriedades que ainda não sofreram intervenção, o terreno está muito seco, sem capim, pois as últimas chuvas foram em janeiro”, conclui.